25 de abril de 2010

Presentes 2

Abordei o problema dos presentes no artigo Presentes: sonho feminino, pesadelo masculino. Uma leitora anônima postou nele um comentário com uma dica muito interessante, que resolvi divulgar aqui para ajudar os homens na difícil tarefa de comprar presentes para suas parceiras:

"...vou dar uma dica feminina: nós damos indiretas do que gostamos e desejamos, mas os homens, distraídos como são, não captam a mensagem. Basta fazer um passeio no shopping uma semana antes da compra do presente e permanecer atento aos comentários que faremos:
- Nossa, que blusa m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a!
- Eu estou louca por uma bota creme!
- Ai que fofo este brinco!
- Se eu tivesse dinheiro comprava este vestidinho para mim!
Pronto!!!! Ele vai lá sozinho depois e compra o que ela gostou. Obviamente, ele não poderá comprar tudo que ela gostou, porque são inúmeras coisas, mas a chance de erro cai quase a zero.
Espero que muitos homens leiam seu blog, inclusive e principalmente meu marido hehehehe!"


A dica é muito boa, e decidi testar o truque na prática - só que descobri algumas armadilhas que devem ser contornadas com muito cuidado. Homens são péssimos na improvisação, e se não chegarem com tudo bem ensaiado, o tiro com certeza vai sair pela culatra.

O primeiro grande entrave é lembrar da data importante com uma semana de antecedência - um eterno pesadelo masculino. A saída é usar a grande invenção da humanidade, o calendário do celular, e criar lembretes com a antecedência necessária. Tanto o problema quanto a solução são abordados com mais detalhes no meu artigo As mulheres e as datas - estudem, meninos!
Mas a maior dificuldade reside realmente na execução do truque. Basicamente, tudo o que o homem tem que fazer é prestar atenção nas dicas e dar um jeito de memorizar os produtos discretamente sugeridos por sua companheira. Isso pode parecer fácil, mas certas limitações do cérebro masculino tornam as coisas muito complicadas.
O primeiro problema é prestar atenção. Após alguns minutos (ou segundos) de passeio em um shopping, a tendência natural do espécime masculino é entrar em modo piloto automático: o homem dá respostas pré-gravadas - "Ahan", "É mesmo", "Puxa!", etc. - e tudo o que a mulher diz entra por uma orelha e sai pela outra sem ser registrado no cérebro, que está muito ocupado pensando em futebol ou outros assuntos igualmente importantes. Dominar esta tendência - pelo menos durante as dicas femininas - não é nada fácil, e requer bastante concentração.
Se conseguir captar a dica, o segundo grande problema é identificar a qual dos infinitos produtos da loja a mulher ser refere, e memorizar seu nome:
- Ai, que lindo este corselete!
- Nossa, como eu queria um scarpin desses!
- Essa bolsa fúcsia é o máximo!
Claro que um homem típico não tem a menor idéia do que vem a ser um corselete ou um scarpin, e provavelmente acha que fúcsia é algum palavrão italiano. Por isso, é fundamental registrar o nome do presente o mais rápido possível - ele desaparece da volátil memória masculina em cerca de 10 segundos! Nem pense em digitar o nome no celular: enquanto você briga com as teclas tentando escrever um nome, ela já metralhou mais duas ou três dicas! Mas este velho aliado masculino ainda pode salvar a pátria: se o celular tiver gravador de voz (disponível até nos modelos mais vagabundos), o truque é deixar a função pré-selecionada para quando ela der alguma dica:
- Essa camisete não é linda?
Para garantir, force-a a repetir o nome misterioso:
- Como? Não entendi!
- A camisete! Não é a coisa mais linda?
Finja que está coçando o queixo com a mão que segura o celular, aperte o botão de gravação e repita o nome para registro:
- Ahh... a camisete! Puxa, é linda mesmo!
Mantenha o modo de gravação ativado e aproveite o embalo para definir a cor (as mulheres tem uma criatividade infinita nesta matéria):
- Mas será que essa cor combina?
Não se denuncie! Diga "essa cor", sem mencionar qual é, já que você certamente não tem a menor idéia do que está falando. Grave a resposta dela:
- É mesmo... acho que melhor seria areia... ou pêssego...
É importante gravar até mesmo nomes de cores aparentemente inocentes como estes. Nunca confie na memória masculina: areia pode virar terra, pêssego pode virar laranja, ou pior: creme pode se transformar em chocolate! E acredite: não são a mesma coisa! Ah! E não se esqueça de gravar discretamente o nome e o local da loja:
- Puxa! Muito boa esta loja EXPENSIVE WEAR na ALA VERMELHA do PISO 2!
Não bobeie! De nada adianta saber o que comprar se você não souber onde - para um homem típico, lojas femininas parecem tão iguais quanto as dunas do deserto!

Mantenha sempre uma coisa em mente: o objetivo da excursão é APENAS colher informações, para DEPOIS voltar e comprar o presente para entrega NA DATA CERTA! Por isso, grave todas as informações, mas SEM DAR BANDEIRA! Nunca demonstre maior interesse, e ACIMA DE TUDO: nunca pergunte nada para as vendedoras. Isso é fundamental! Se o homem cair na besteira de perguntar qualquer coisa a uma vendedora na presença de sua companheira - "Abre amanhã?", "Tem outras cores?" - estará sem saber liberando uma das forças mais incontroláveis da natureza: o furor consumista feminino. E o pior, de duas mulheres: a dele e a vendedora! De olho na comissão (e no que vai comprar com ela), a vendedora começará a oferecer todo o estoque da loja - especialmente os itens mais caros. Ao mesmo tempo, excitada pela possibilidade de levar o presente na hora, sua mulher não abandonará o ringue sem muita luta. O resultado é desastroso: o homem acaba tendo de comprar não um, mas diversos presentes - e bem mais caros do que ele pretendia.
Mas o pior de tudo é que, na data em que deveria dar o presente, sua mulher estará com aquela cara de "O que será que eu vou ganhar?". Isso ilustra o mandamento mais importante da arte de presentear mulheres: nunca, jamais, em hipótese alguma dê um presente adiantado a uma mulher! Não existe este negócio de "presente adiantado" no universo feminino. Presentes dados fora de hora não contam, e o pobre infeliz será obrigado a sair correndo para comprar outra coisa na data comemorativa - seja domingo ou feriado!

23 de abril de 2010

As loiras e o SAFAD (mulherômetro)

Certamente toda mulher já deve ter ouvido falar que “as loiras chamam mais a atenção”. Isso é verdade. Por motivos que as mulheres – e mesmo os homens – não suspeitam, cabelos loiros realmente despertam a atenção masculina mais do que quaisquer outros. O responsável por isso é um sistema chamado mulherômetro, ou SAFAD.
Vou explicar o que é isso. Nós, homens, desenvolvemos logo no início da puberdade um sistema automático de avaliação feminina que funciona independentemente, como uma espécie de sexto sentido. Com o nome científico de Sistema de Avaliação Feminina Autônomo Dedicado - SAFAD - e popularmente conhecido como mulherômetro, este sistema monitora todos os nossos sentidos para detectar automaticamente as fêmeas interessantes que se aproximam.
Podem reparar: quando um grupo de homens está reunido despreocupadamente batendo papo-furado – futebol, política, Big Brother, seja lá o que for – e uma mulher em idade reprodutiva entra na área de detecção do mulherômetro (mais ou menos uns 50 metros de raio), o papo cessa instantaneamente e todas as cabeças se voltam para ela. O que acontece é mais ou menos o seguinte: não importa o que o homem esteja fazendo, todos os sinais provenientes dos sentidos masculinos são constantemente monitorados pela central do mulherômetro; assim que algum dos sentidos detecta sinais femininos, o mulherômetro entra em estado de alerta e faz uma rápida avaliação do potencial da mulher em questão. Caso ela seja considerada fora de faixa (muito nova ou muito velha), o mulherômetro volta ao seu estado de repouso – ou melhor, de vigilância silenciosa. Se for aprovada, por outro lado, o mulherômetro interrompe imediatamente qualquer atividade secundária que o homem esteja fazendo e o obriga a olhar para o objeto detectado a fim de fazer uma análise mais detalhada.

O mulherômetro é o verdadeiro culpado dos homens serem tão bandeirosos. Como todo sistema autônomo que se preze, ele não quer saber se o cara está acompanhado ou não. Quando passa uma fêmea digna de atenção, o homem sofre uma interrupção do seu mulherômetro, não consegue controlar a tempo suas reações e acaba dando uma olhada involuntária - bandeira que não vai escapar impune ao olhar vigilante da sua mulher:
- Alfredo! Seu sem-vergonha descarado!
- Mas...
- Não pode passar uma vagabunda que você já fica olhando!
- Mas...
- E na minha cara! Seu safado!
- Mas foi ele mesmo, bem! Foi o SAFAD!
- E ainda quer jogar a culpa nos outros! Canalha!
- Aaaaii!
O beliscão que terminou este diálogo foi totalmente injusto, já que o pobre Alfredo - como todo homem - não tem o menor controle sobre seu mulherômetro. O SAFAD está sempre ligado - pelo menos durante toda a idade reprodutiva do homem - e sua atividade é virtualmente incontrolável.

Acredito que o mulherômetro tenha se desenvolvido durante a evolução para compensar uma característica típicamente masculina: a incapacidade crônica de fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo. Ao contrário da versátil mente feminina, o cérebro do homem é uma tosca máquina mono-tarefa: só consegue se ocupar de uma coisa por vez. Sem o mulherômetro, a humanidade entraria em processo de extinção, porque os machos da espécie ficariam concentrados em qualquer idiotice - como ler um jornal, assistir um jogo ou descascar bananas - e não notariam as fêmeas ao seu redor (fato que as mulheres casadas conhecem muito bem), perdendo a maioria das possibilidades de reprodução. Suspeita-se até que a falta de um mecanismo SAFAD nos pandas machos seja o fator responsável pelos problemas da espécie - eles ficam procurando brotinhos de bambu e esquecem das atividades reprodutivas.

De todos os sentidos monitorados, o que mais aciona o mulherômetro é a visão. Isso acontece porque a visão periférica do homem capta características femininas muito antes que qualquer outro sentido. Como a visão periférica não distingue bem detalhes, ela acaba focando nas características que mais facilmente diferenciam as fêmeas dos machos à distância - principalmente os cabelos com cortes e cores femininos. Isso explica porque "loiras chamam mais a atenção": cabelos longos e loiros são quase uma exclusividade feminina, e disparam o mulherômetro com muito mais força do que quaisquer outros. Para uma não-loira, a mensagem do mulherômetro para o cérebro masculino é mais ou menos assim:
-Atenção! Analisar fêmea detectada 15 metros à direita!
Para uma loira, por outro lado, a mensagem é algo do tipo:
-ATENÇÃO! ANALISAR IMEDIATAMENTE LOIRAÇA DELICIOSA 15 METROS À DIREITA!
Neste ponto, as morenas podem estar achando que os homens são infinitamente mais tarados pelas loiras do que por elas. Definitivamente não são - apenas o mulherômetro é que é mais sensível a elas. Na prática, isso acaba criando problemas para as loiras que as morenas não tem: como o mulherômetro fica super-excitado pela visão de uma loira, cria no homem uma expectativa quase impossível de ser correspondida pelas mulheres reais. Pequenas imperfeições que nem seriam notadas em uma morena viram quase defeitos físicos em uma loira. Como resultado, a primeira impressão que o homem tem de uma loira na maioria das vezes é decepcionante - não por culpa dela, mas sim pela expectativa exagerada criada pelo tonto do mulherômetro.

Portanto, morenas, nada de pânico! Podem guardar seus descolorantes e tinturas, porque a partida está empatada - e com uma vantagem para as morenas: elas não tem de aturar as infames piadas de loira (e até podem contá-las como vingança)!